Após explosão no Tatuapé, vigilância virou rotina e moradores reclamam de ajuda oferecida pela prefeitura
A aposentada Joseli Silvestre passou o fim de semana em vigília em frente à própria casa, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, após a explosão que levou à interdição total ou parcial de mais de 23 residências na última quinta-feira. Revezando a guarda com parentes, a moradora diz que terá de assumir uma dívida para reformar o imóvel e que a maioria dos vizinhos já manifestou interesse em se mudar de bairro após a tragédia, que matou uma pessoa e deixou outras dez feridas.
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Na manhã desta segunda-feira, enquanto retirava alguns móveis da casa parcialmente interditada, Joseli relatou que ainda há temor de saques mesmo com a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM) na região, e que apesar de planos para se manter no mesmo endereço, seus vizinhos, a maioria que morava de aluguel, vai deixar a região.
— As pessoas estão fazendo saques aqui. Por isso até peço para a GCM [Guarda Civil Metropolitana], se possível, estacionar aqui em frente de casa à noite — afirmou. — Eu não saio daqui, mas vou ter que assumir uma dívida para fazer a reforma, por causa de um irresponsável — continuou, em referência ao baloeiro Adir Mariano.
Morando há pelo menos três meses na região, Mariano morreu na quinta-feira, em decorrência da explosão. Ele vivia com a esposa, que não estava em casa no momento do incidente, e que nega conhecimento sobre o armazém ilegal do marido. Segundo vizinhos, ninguém sabia que ele manipulava explosivos na residência.
Maria das Graças também montou vigília com vizinhas em um conjunto com pelo menos nove casas. De acordo com a aposentada, os moradores estão se organizando para comprar janelas: desde a explosão, têm improvisado o fechamento das fachadas com papelão e sacos plásticos para conter o vento e o frio.
Quatro dias após o incidente, a maioria das famílias já tinha deixado a região, algumas pessoas ainda organizavam a mudança levando objetos de valor para a casa de parentes. Uma família de bolivianos, que estava sem documentos, procurava meios de se conseguir um novo endereço para alugar.
Moradores que preferiram não se identificar reclamaram do auxílio oferecido pela prefeitura, que classificaram como insuficiente. Eles afirmam que precisariam de recursos para reformar as casas e que a alternativa de abrigo municipal não atende às necessidades, pois não haveria espaço para guardar objetos de valor.
Após avalição da Defesa Civil, o número de imóveis interditados caiu de 23 para 11 na última sexta-feira.
A prefeitura informou que vai pagar R$ 1 mil a cinco das 20 famílias que perderam pertences ou tiveram as casas danificadas. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, o pagamento será feito em parcela única para famílias de baixa renda que moravam na rua atingida, como auxílio emergencial.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) afirma que equipes da assistência social permaneceram na região durante toda a sexta (14) e o sábado (15), atenderam 20 famílias e ofereceram acolhimento em albergues da prefeitura — ajuda recusada por todas elas.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (SMADS) informou ter disponibilizado colchões, cobertores, cestas básicas e kits de higiene e limpeza para as famílias desabrigadas. Nesta segunda-feira (17), a Defesa Civil deve realizar nova perícia nas residências para avaliar a possibilidade de retorno dos moradores a parte das casas interditadas.
