Apagão em SP: peru de Natal, marmitas e carnes de churrasco vão para o lixo após dias sem energia
Sem energia em casa desde quarta-feira, alguns moradores de São Paulo estão começando a se desfazer de alimentos refrigerados que não aguentaram tanto tempo sem o funcionamento de geladeiras e freezers. É o que acontece na casa de Vilma Tragnone, de 87 anos. Pela manhã desta sexta, ela contabilizava as perdas do refrigerador, que ultrapassou as 48 horas desligado.
— Sou uma senhora, vou pouco ao mercado, então meu freezer fica cheio. Faço apenas algumas coisinhas na cozinha — diz ela, que mora no Jardim Ester, na Zona Oeste. — Os alimentos crus acho que não tem salvação, pois se aguaram não será possível consumi-los. Essa falta de energia é um problema recorrente aqui, em diversas ocasiões passamos por isso.
Em imagem enviada ao GLOBO, há diversos pacotes de alimentos descongelados no freezer de Vilma. Entre pães de queijos e aves natalinas. Será difícil salvar algo naquele conjunto.
Quem também deve perder tudo da geladeira é o advogado e síndico, Venâncio Pereira, que mora no bairro da Saúde, na Zona Sul. No começo da semana, ele pagou pela preparação de um conjunto de marmitas para toda a família ao longo do mês, ao custo de R$ 400. Estavam todas acondicionadas no refrigerador e não devem sobreviver às dezenas de horas com o equipamento desligado.
— Tenho ainda peru, carnes e linguiça para o Natal. Caso a energia não volte hoje mesmo vai descongelar — disse, no fim da manhã. No fim da tarde, a informação é que a energia tinha sido restabelecida, após horas sem informação. — A cada hora que você liga lá é um horário diferente que te dão de previsão, dizem que estão trabalhando e o problema não é resolvido. No meu escritório, na Praça da Árvore também ficamos sem energia.
Na Vila Andrade, a analista de RH Janaina Cordeiro diz que está há muitas horas sem informação. Na casa, mora também a irmã com baixa visão — e que sofre por passar dias na escuridão, ela conta. No refrigerador, onde já estavam guardadas carnes para o Natal, os alimentos começaram a descongelar. Na tentativa de salvar o que restou, Janaina guardou no freezer alguns condimentos e mais potes de manteiga. E comprará gelo para mantê-los por mais tempo. Ela diz que no bairro não se vê nenhum carro da Enel trabalhando.
Mulher escreve "obrigada, Enel" após perder diversos alimentos no apagão
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Nas redes sociais, os relatos se multiplicam e usuários paulistanos mostram a lista de alimentos que jogariam no lixo após estragarem na falta de refrigeração. Em um deles, uma mulher diz ter vontade de chorar ao ver o desperdício de comida. Ela escreveu: "obrigada, Enel".
Mulher mostra todos os alimentos que perderá após apagão
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A artista plástica Andrea Brazil precisou contar com o apoio de uma vizinha para não perder o medicamento do filho que precisa de refrigeração a todo instante. Sensível à temperatura, o remédio precisa ficar em geladeira a todo tempo e é usado diariamente pelo rapaz de 15 anos. Ela diz, porém, que a discussão de colocar um gerador no condomínio — que fica no Morumbi, também na Zona Sul — não atinge a raiz do problema, que é justamente a falta de previsibilidade no serviço da Enel.
— Ao colocar um gerador do condomínio, somos coniventes a essa situação. Isso é um problema para todos, (colocar um gerador) melhora apenas para mim e segue ruim aos outros — explica.
