Ao inaugurar piscinão, Tarcísio ataca Enel: 'Para variar, deixou a gente na mão'

 

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), iniciou nesta terça-feira (23) a operação do Piscinão Jaboticabal, na Região Metropolitana de São Paulo, com novas críticas à concessionária Enel. Segundo ele, a obra só pôde começar a funcionar com o uso de geradores por falta de ligação de energia elétrica, responsabilidade da empresa.

— As nossas bombas vão funcionar com gerador porque a Enel não fez a ligação de energia. Para variar, deixou a gente na mão. Mas vamos botar para funcionar assim mesmo — disse o governador, durante a inauguração.

Tarcísio afirmou ainda que várias outras obras no estado enfrentam atrasos pelo mesmo motivo e disse ter tratado do tema em uma ligação, nesta terça-feira, com o presidente da concessionária.

— Temos muitas obras em São Paulo que atrasam ou deixam de ser entregues por falta de ligação de energia elétrica. Aqui (no piscinão), o problema é o funcionamento das bombas, então começamos a operar com gerador. Não vamos deixar de operar — afirmou, afirmando que a mesma solução teve que ser aplicada para as obras da Linha 6- Laranja do Metrô da capital.

Com eleições no ano que vem, Tarcísio, que é citado tanto como possível candidato à reeleição quanto como nome da direita para disputar a Presidência da República, aposta no volume de obras iniciadas e entregues como um de seus principais ativos políticos. Porém, os problemas com a concessionária, segundo ele, têm afetado o cumprimento de sua agenda.

O Piscinão Jaboticabal fica próximo à Rodovia Anchieta, na bacia do Ribeirão dos Meninos, e tem capacidade para armazenar até 900 mil metros cúbicos de águas pluviais. A estrutura deve beneficiar cerca de 1,5 milhão de pessoas na capital e no ABC Paulista e integra o Programa Estadual de Prevenção de Enchentes.

Pressão política contra concessionária

Por se tratar de uma concessão de competência federal, o governo estadual não tem poder para aplicar sanções diretas à Enel. Por isso, segundo apurou O GLOBO, a estratégia de Tarcísio tem sido ampliar a pressão política sobre a empresa, com o objetivo de forçar sua saída do estado.

Nos últimos dias, o governador tem citado como referência o estado de Goiás. A Enel assumiu a distribuição de energia no estado do centro-oeste em 2017, ao adquirir a antiga Companhia Energética de Goiás (Celg) por R$ 2,1 bilhões, prometendo reduzir em 40% as interrupções no fornecimento — meta que não foi alcançada.

Diante de falhas recorrentes, houve uma escalada de pressão política, liderada pelo governador Ronaldo Caiado (União), incluindo a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa. Como a reestatização não era juridicamente viável, Caiado passou a defender que a empresa italiana transferisse a operação para outro grupo.

Em 2022, a Enel vendeu suas operações em Goiás à Equatorial Energia por R$ 1,6 bilhão. Além da concessão, a empresa brasileira assumiu uma dívida de R$ 5,7 bilhões deixada pela distribuidora.

Em São Paulo, Tarcísio tem adotado estratégia semelhante e já mencionou publicamente a possibilidade de fatiar a concessão para torná-la mais atrativa ao mercado. Atualmente, a Enel atende 24 municípios da Região Metropolitana, somando mais de 8 milhões de clientes.

Qualquer decisão sobre caducidade da concessão, no entanto, cabe ao governo federal. Reportagem do GLOBO desta semana mostrou que o tema já vem sendo debatido no setor elétrico, com empresas como CPFL, Equatorial, Âmbar e Neoenergia citadas como possíveis interessadas.

Na semana passada, Tarcísio se reuniu com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no Palácio dos Bandeirantes, e anunciou que pediria à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a abertura de processo de caducidade contra a Enel. A agência informou que analisará o pedido dentro de um processo de fiscalização já em andamento desde 2024, motivado por apagões frequentes na área da concessão paulista.

Na última quinta-feira (18), a Aneel criou um comitê interno e ampliou o número de servidores dedicados à fiscalização da Enel em São Paulo.

— Aprovamos hoje uma portaria designando temporariamente servidores de outras áreas para reforçar a fiscalização e garantir que todas as ações informadas pela empresa sejam devidamente verificadas — afirmou o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa.

A apuração do episódio ocorrido em 10 de dezembro, quando um evento climático extremo voltou a comprometer o sistema de distribuição, será conduzida pela Aneel em conjunto com a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp). O objetivo é verificar se houve reincidência de falhas no restabelecimento do serviço, um dos principais pontos críticos apontados em fiscalizações anteriores.

Colaborou Hyndara Freitas