Análise: monólogo do Flamengo assina nono título brasileiro e temporada com dobradinha histórica
O elenco de 2025 assegurou um lugar muito especial na História do Flamengo e do futebol brasileiro. Quatro dias após vencerem o tetracampeonato da Libertadores contra o Palmeiras, os jogadores comandados por Filipe Luís conquistaram o eneacampeonato do Brasileirão com uma rodada de antecedência. Samuel Lino se consagrou ao fazer o gol de uma vitória por 1 a 0 sobre o Ceará, em partida na qual o Maracanã passou os 90 minutos em compasso de espera pela abertura oficial de mais um carnaval no Rio de Janeiro.
Na verdade, a torcida precisou aguardar apenas 36 minutos até que a contratação mais cara do clube escrevesse sua principal página até aqui. Foi quando ele recebeu de Carrascal e bateu cruzado por baixo do goleiro Bruno Ferreira. O lance ainda teve a assinatura de Jorginho, que fez um corta-luz magistral na grande área.
Eram cinco temporadas sem a conquista nacional — o copo meio cheio mostra três taças nas últimas sete edições —, motivo que levou a diretoria a colocar o Brasileiro como prioridade desde o início do ano. O grupo foi além e se tornou apenas o quinto da História a conseguir a dobradinha no Brasil no mesmo ano, juntando-se ao Santos de 1962 e 1963, ao próprio Fla de 2019 e ao Botafogo de 2024.
Ontem, a condição física dos jogadores podia não ser a ideal após quatro dias mais marcados por comemorações pelo título continental do que por preparação para o jogo. Mas o comandante sabia que podia escalar força máxima diante de uma arquibancada com o número recorde de 73.244 presentes para sacramentar um título que já estava 90% conquistado.
A escalação foi a mesma do jogo do fim de semana, com Danilo e Samuel Lino mantidos entre os titulares. E se o dedo de Filipe Luís tinha funcionado com um deles no sábado, recaiu sobre o outro ontem. Lino foi um dos jogadores mais participativos em campo, assim como Carrascal e Varela, e converteu a melhor chance que teve mesmo após acumular alguns erros.
O título amplia a galeria de uma equipe que já havia faturado Libertadores, Supercopa do Brasil e Carioca, e ainda disputará a Copa Intercontinental, e dá mais tamanho histórico a alguns personagens. A começar por Filipe Luís, que chega a cinco títulos em apenas 14 meses como treinador profissional — o primeiro foi a Copa do Brasil de 2024.
Pilares em campo desde 2019, Arrascaeta e Bruno Henrique não se cansam de reforçar o posto de maiores vencedores da história do Flamengo: são agora 17 títulos oficiais. O camisa 10 apareceu ontem de tranças novas e não conseguiu fazer muita coisa, mas é o artilheiro da equipe no Brasileirão e foi o protagonista da campanha.
De ponta a ponta
A tônica do jogo contra o Ceará foi menos da intensidade e pressão alta a que o torcedor está acostumado e mais da paciência para encontrar espaços contra um adversário que briga contra o rebaixamento e buscava qualquer ponto fora de casa. O Flamengo teve o controle da bola quase na íntegra e dominou os duelos defensivos, mas faltava quebrar as duas linhas da defesa.
Vice-líder, o Palmeiras já vencia o Atlético-MG, mas a notícia sequer parecia chegar ao Maracanã. A equipe ia atacando com finalizações de fora da área, principalmente, e Varela quase conseguiu dar uma assistência de cabeça, antes que Carrascal e Lino aparecessem para fazer o gol do jogo.
Samuel Lino faz gol do eneacampeonato brasileiro do Flamengo
Guito Moreto / Agência O Globo
Com a frente do placar, o Flamengo ampliou o monólogo na segunda etapa. Arrascaeta, Lino, Bruno Henrique e Cebolinha tiveram outras boas chances para ampliar. Como Rossi não era ameaçado, o título não esteve perto de ser perdido. Todos os homens de frente foram substituídos para serem ovacionados por uma torcida que iniciou a festa pelo título em definitivo.
— Eu estava tentando. Entendo a torcida, mas eu tentei. Mostra o quanto eu sou resiliente, luto, tento, batalho. Não só nesse jogo, mas também na minha carreira, no meu dia a dia — disse Lino à TV Globo. — Fui campeão aqui com o Flamengo no Carioca sub-20 e hoje eu volto para ser campeão profissional no mesmo Maracanã. O sentimento é de gratidão.
Ainda há uma rodada a ser cumprida contra o Mirassol, mas todos os olhos já estão voltados para o Intercontinental. Na próxima quarta-feira, o rubro-negro estreia contra o Cruz Azul, do México, no Catar, com o objetivo de chegar à final contra o campeão europeu Paris Saint-Germain.
