Análise: Flamengo vai ao limite contra o PSG, mas não faz o suficiente para colocar cereja do bolo em temporada histórica
Por mais que existam equipes brasileiras candidatas a se aproximar dos melhores padrões do futebol europeu, o limite para superar esses adversários quando vale taça ainda parece distante. O Flamengo é um dos que mais chegam com chances a este tipo de confronto e, seis anos depois, voltou a ter a oportunidade em um torneio da Fifa. Porém, se sustentar por 120 minutos na decisão da Copa Intercontinental contra o Paris Saint-Germain não foi suficiente. Após empate por 1 a 1 com a bola rolando, a equipe caiu nos pênaltis (2 a 1) e foi vice.
O roteiro que teve gols de Khvicha Kvaratskhelia e Jorginho acabou com um herói para lá de improvável no estádio Ahmad bin Ali, em Doha, no Catar. O goleiro russo Matvei Safonov, reserva na equipe de Luis Enrique, brilhou ao pegar cobranças de quatro jogadores rubro-negros: Saúl, Pedro, Léo Pereira e Luiz Araújo. Para quem voltou a chegar tão perto do bicampeonato mundial, ficou a frustração.
A temporada do Flamengo foi irretocável, com quatro títulos, entre eles o eneacampeonato do Brasileirão e o tetracampeonato da Libertadores, que possibilitou à equipe desafiar o atual campeão europeu. Por esse histórico e os bons jogos contra Cruz Azul e Pyramids, a confiança era maior na chance de quebrar a barreira que perdura desde 2012, quando o Corinthians bateu o Chelsea. No fim das contas, ficou um gostinho agridoce.
Em campo, a previsível superioridade do PSG ficou evidente desde que a bola rolou, mas o Flamengo fez por onde estar à altura. Em uma atuação de fôlego, buscou uma desvantagem criada em um primeiro tempo marcado por erros, assim como havia acontecido contra o Bayern de Munique na Copa do Mundo de Clubes, e se superou fisicamente no 74º jogo do elenco principal na temporada para impedir que o time francês saísse vencedor com a bola rolando.
Safonov foi o herói do PSG contra o Flamengo
Mohamed Farag - FIFA
Não faltou perna, a não ser no segundo tempo da prorrogação, quando os jogadores já estavam extenuados. A derrota nos pênaltis parece passar mais pela concentração ou a própria preparação do que por aspectos físicos. Dos quatro que perderam, apenas Léo Pereira havia iniciado como titular. Evidentemente, também vale dar mérito ao PSG, uma equipe de ponta do futebol mundial que dá sequência às conquistas de um ano histórico.
O Flamengo esteve diante do Liverpool no Mundial de Clubes de 2019 e até ficou mais distante do título naquela ocasião, por mais que o time traga melhores memórias para o torcedor. Daquela vez, a derrota veio ainda na prorrogação. Dessa vez, o rubro-negro só bateu na trave no momento final.
— Demos nosso melhor nesse jogo contra uma das melhores equipes do mundo. Era um jogo muito difícil para nós. Não temos nada que reclamar, cada um deu seu melhor. Corremos atrás desse sonho, mas não deu certo — disse Arrascaeta.
Empate e equilíbrio em Doha
O Flamengo sabia que a chave para sonhar em vencer o campeão europeu era o erro zero, mas a premissa é muito difícil de ser mantida. Com menos de dez minutos, Fabián Ruiz chegou a fazer um gol em um lance de completa confusão no sistema defensivo, com direito a recuo mal feito e saída precipitada de Rossi, mas o lance foi anulado porque a bola saiu pela linha de fundo.
Serviu para acordar o Flamengo e estabelecer algum equilíbrio em campo, mas o PSG praticamente não errava passes e executava movimentações quase coreografadas. Foi assim que transformou em gol uma jogada despretensiosa iniciada pela esquerda e invertida rapidamente para explorar as costas de Alex Sandro, que não teve a cobertura de Carrascal. Doué cruzou sozinho, e Rossi contribuiu, amortecendo para Kvaratskhelia abrir o placar.
O segundo tempo apresentava a mesma configuração até os 10 minutos, quando Filipe Luís lançou Pedro. O atacante atuou bem por pouco tempo, mas fez o time ter mais controle com a bola no ataque. Logo depois, Arrascaeta entrou na área e foi derrubado por Marquinhos. O zagueiro brasileiro não viveu uma boa noite em Doha e viu Jorginho converter mais uma cobrança de maneira inapelável.
De pênalti, Jorginho marcou o gol do Flamengo no empate em 1 a 1 com o PSG no tempo regulamentar
Adriano Fontes/Flamengo
A partir da igualdade, o jogo virou lá e cá. O Flamengo cresceu e teve ao menos três boas finalizações, com Plata, Bruno Henrique e Pedro. O PSG respondeu com Nuno Mendes e João Neves. No último lance do tempo regulamentar, Marquinhos recebeu uma bola sozinho na pequena área, mas chutou de canela.
Ter que disputar 30 minutos extras contra um adversário deste porte é uma missão árdua, mas o Flamengo a cumpriu. Em grande da parte da prorrogação, o PSG foi senhor do jogo e esteve na iminência de ameaçar o gol de Rossi, mas sempre foi travado pela defesa, especialmente por jogadores que entraram, como De la Cruz.
Vieram os pênaltis, e o torcedor até teve esperança, com a cobrança convertida por De la Cruz, o pênalti desperdiçado por Dembélé e a defesa de Rossi contra Barcola. Mas, sem Jorginho, Arrascaeta e outros bons batedores, já substituídos, a falha em dose quádrupla fez as chances de título ruírem. Vitinha e Nuno Mendes converteram para o PSG e fizeram a taça ir para Paris.
