Alto oficial militar dos EUA visita base no Caribe em meio ao aumento de tensões com a Venezuela
O general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, visita nesta segunda-feira Porto Rico e um dos vários navios de guerra da Marinha enviados ao Mar do Caribe, em um momento de intensificação das tensões entre Washington e Caracas. A viagem, oficialmente apresentada como uma oportunidade para agradecer às tropas antes do feriado de Ação de Graças, ocorre enquanto a administração do presidente Donald Trump avalia novos passos de pressão contra o governo de Nicolás Maduro, incluindo possíveis ações militares.
Em meio a operações contra o narcotráfico e tensões: EUA reativam base militar e adaptam aeroportos no Caribe
Contexto: EUA classificam Cartel de los Soles como grupo terrorista; medida deve ampliar pressão militar e econômica sobre Maduro
Segundo o Pentágono, Caine viaja ao território americano acompanhado de David L. Isom, integrante da Navy SEALs e assessor sênior, para se reunir com militares do Comando Sul. O deslocamento ocorre dias após a chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford — o maior do mundo — ao Caribe, que se soma à presença de cerca de 15 mil militares na região, incluindo fuzileiros navais e aproximadamente 5 mil integrantes em bases de Porto Rico.
Caine é considerado um dos principais arquitetos da Operação Lança do Sul, definida pelo Departamento de Defesa como o maior reforço naval no Caribe desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Navios de guerra americanos têm realizado operações em áreas próximas à costa venezuelana, em regiões distantes das principais rotas de tráfico de drogas, segundo análises de imagens de satélite verificadas pelo New York Times.
Ao mesmo tempo, o governo Trump vem aprovando medidas adicionais de pressão contra Maduro. De acordo com pessoas informadas sobre o assunto, o presidente deu aval a planos da CIA para ações encobertas dentro da Venezuela, embora não haja detalhes públicos sobre o tipo de operação ou seu prazo. Também autorizou negociações por canais informais, que teriam incluído uma proposta — rejeitada pela Casa Branca — na qual Maduro se disporia a deixar o cargo após alguns anos.
NYT: Trump aumenta pressão sobre a Venezuela, mas o desfecho ainda é incerto
Washington intensificou ataques contra embarcações acusadas de transportar drogas no Mar do Caribe nos últimos meses. Desde setembro, pelo menos 21 ofensivas resultaram na morte de 83 pessoas. O governo afirma que as operações são respaldadas por informações de inteligência, mas ainda não forneceu provas detalhadas sobre as cargas transportadas. Enquanto isso, caças F/A-18 decolam regularmente do porta-aviões Ford, e bombardeiros B-1 e B-52 realizam missões de treinamento próximas ao litoral venezuelano.
Autoridades dizem que Trump ainda não tomou uma decisão sobre ações militares adicionais, embora, há várias semanas, ele tenha declarado que ataques terrestres contra alvos venezuelanos estavam por vir. Variações desses ataques — contra instalações de drogas, tropas militares ou membros do círculo íntimo de Maduro — foram debatidas nos preparativos das reuniões de segurança nacional desta semana.
Presença no Caribe
Ao longo de duas décadas, a base militar americana de Roosevelt Roads, em Porto Rico, ficou coberta por mato e ferrugem. Outrora maior estrutura da Marinha dos EUA no exterior, com área de 3.500 hectares, a base estava desativada desde 2004 — até voltar a servir de ponto de apoio para alguns dos aviões de guerra mais modernos do mundo. A reativação, em meio à escalada militar de Washington no Caribe, é apontada por fontes americanas como parte dos preparativos para uma possível ação direta contra a Venezuela.
Em uma análise a partir de imagens de satélite, a agência de notícias Reuters constatou que melhorias foram realizadas na instalação desde que os EUA voltaram a enviar meios militares. O relatório aponta que houve uma modernização das pistas de taxiamento, o que poderia permitir o uso tanto por caças quanto por aviões de carga, condizente com um preparativo para aumento no número de pousos e decolagens. Equipamentos portáteis de apoio ao tráfego aéreo e 20 novas tendas também foram instaladas.
— Se o foco agora é o Hemisfério Ocidental, faz todo o sentido reabrir o que antes era uma enorme base e garantir que ela possa acomodar a variedade de aeronaves que as Forças Armadas dos EUA utilizam — disse Christopher Hernandez-Roy, pesquisador sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em entrevista à agência britânica.
A infraestrutura militar americana no Caribe
Arte O GLOBO
Imagens de satélite também indicam a construção de instalações em aeroportos civis em Porto Rico e em St. Croix, nas Ilhas Virgens. Enquanto isso, forças americanas continuam a se apoiar logisticamente em pequenas nações, como Granada e Trinidad e Tobago, onde aportou recentemente o contratorpedeiro USS Gravely, equipado com mísseis Tomahawk, a pouco quilômetros do litoral da Venezuela, no que foi considerado por Caracas como uma provocação e um ato hostil.
A escalada militar tem provocado temores de que o plano americano seja mais abrangente. A Venezuela acusa Trump de cercar o país, sugerindo que a mobilização é uma forma encoberta de alcançar uma mudança de regime em Caracas. O governo de Nicolás Maduro intensificou a repressão interna em meio à tensão, incentivando o uso de aplicativos para a denúncia de pessoas por “atividades suspeitas”, prendendo suspeitos de dissidência e enviando grupos paramilitares aliados ao regime para bairros pobres, a fim de vigiar moradores e conter qualquer sinal de oposição.
Tensão elevada
No domingo, ao fim da cúpula do G20, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse a repórteres que pretende contatar Trump para expressar preocupação com o aumento da presença militar dos EUA perto da Venezuela, alertando que as atividades podem desestabilizar a América do Sul.
— Não há absolutamente nenhuma razão para ter uma guerra agora. Não podemos repetir o erro cometido na guerra entre Rússia e Ucrânia — afirmou, acrescentando que uma solução deve ser encontrada antes de qualquer escalada.
A tensão também afetou a aviação comercial. No fim de semana, diversas companhias aéreas cancelaram voos de e para a Venezuela após um alerta da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA), que citou o “agravamento da situação de segurança e intensificação da atividade militar ao redor da Venezuela”, alimentando especulações sobre possíveis operações dos EUA. (Com Bloomberg e New York Times)
