Acordo sobre financiamento para adaptação climática pode ajudar a destravar plano sobre combustíves fósseis

 

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Os ministros do clima e meio ambiente de diversos países chegaram à cúpula da COP30 para iniciar a semana política da COP. Entre os principais pontos a serem debatidos estão acelerar a redução das emissões, oferecer financiamento climático e facilitar o comércio. Não está claro se os delegados conseguirão atender a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se chegar a um consenso sobre um roteiro de transição para os combustíveis fósseis, o chamado roadmap.

A primeira semana foi marcada por um clima mais conciliatório, apesar das divergências em todo na agenda formal de discussões. Os negociadores brasileiros solicitaram aos países propostas sobre o que esperavam obter da COP30, na forma de “cartas de amor”, enquanto as reuniões foram apelidadas de “sessões de terapia”.

Mas manter esse clima será um desafio, já que o tempo se esgota e os ministros podem entrar em confronto sobre o texto final.

Em alguns setores da Zona Azul, administrada pela ONU e onde ocorrem as negociações na COP30, há esperança de que se chegue a um acordo sobre o financiamento da adaptação.

Um acordo, firmado em 2021, para dobrar esses recursos para cerca de US$ 40 bilhões expira no final deste ano, e há uma pressão para se estabelecer uma nova e mais ambiciosa meta para a próxima década. Isso poderia potencialmente desbloquear mais apoio para a redução do uso de combustíveis fósseis.

Mas o Brasil, anfitrião da COP30, esbarra em interesses diferentes entre os países. O grupo de negociação de Países em Desenvolvimento com Interesses Semelhantes — que inclui Arábia Saudita e Índia — pressiona as nações desenvolvidas a assumirem compromissos mais concretos sobre o financiamento climático, enquanto a China deseja uma discussão sobre práticas comerciais desleais.

Também existe resistência acerca do roteiro para transição dos combustíveis fósseis.

— Tive mais conversas sobre a transição de combustíveis fósseis nesta COP do que em qualquer outra, e agora é hora de os ministros cumprirem o apelo do presidente Lula — disse em entrevista Jennifer Morgan, ex-representante especial da Alemanha para o clima.

Os negociadores dos países desenvolvidos, que pediram anonimato, disseram acreditar que a oposição a um roteiro poderia ser forte demais para que ele fosse incluído no resultado final, e que o trabalho se concentraria, em vez disso, na construção de uma coalizão de países dispostos a avançar com um processo voluntário.

Estamos entrando na fase política, disse Liliam Chagas, principal negociadora do Brasil, em uma coletiva de imprensa. Ela acrescentou que há muitos pontos de vista sobre as questões em jogo.

Há pouca expectativa de que um plano totalmente definido sobre os combustíveis fósseis seja apresentado até sexta-feira. Um compromisso de discuti-lo ao longo do próximo ano ou mais poderia ser uma possível solução.

Os países devem realizar uma nova rodada de avaliação em 2028, que mostrará o quão distantes estão da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5°C e o que precisa ser feito para fechar essa lacuna.

O presidente Lula deve comparecer à conferência na quarta-feira para tentar resolver qualquer impasse, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

Embora a presidência brasileira da COP30 tenha se mostrado relutante à ideia de emitir uma chamada decisão de capa, ou seja, um documento que resuma os resultados da conferência, já se discute a possibilidade de uma decisão “mutirão” para integrar as diversas questões abordadas.

Um resumo das negociações, publicado pela presidência no final do domingo, mostrou que o resultado final será construído em torno do reconhecimento do progresso alcançado na década desde o Acordo de Paris, da transição da negociação para a implementação e da resposta à urgência da crise climática.

Entre diversas opções para acelerar a ação, o texto mantém aberta a possibilidade de um roteiro, embora não o vincule explicitamente à eliminação dos combustíveis fósseis.