130 anos do Flamengo: sob a batuta de um Zico reinventado após lesão no joelho, Bebeto é símbolo da conquista do Campeonato Brasileiro de 1987
Depois de o Flamengo ganhar o mundo no início dos anos 1980, foi a vez de o ídolo Zico desfilar seu talento em terras estrangeiras. Por duas temporadas, foi rei na Itália, mas retornou ao rubro-negro graças a um projeto financeiro.
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A expectativa era alta. O Flamengo precisava do seu camisa 10 para novamente levantar taças. Mas uma entrada violenta de Márcio Nunes, do Bangu, em uma partida do Carioca, acabou com os planos em 1985. Zico sofreu lesões graves nos joelhos e passou por três cirurgias para voltar a jogar.
De volta aos campos, um camisa10 mais cadenciado, de lançamentos longos e toques de primeira foi peça fundamental na conquista do Estadual de 1986.
E quis os deuses do futebol que o último troféu erguido pelo maior ídolo do clube fosse o do Campeonato Brasileiro de 1987 — Copa União. Zico ainda era a grande estrela do time, mas a conquista teve o brilho da nova geração de craques.
Franzino e ágil, um baiano de 23 anos encantou os rubro-negros com sua técnica e velocidade. Ao lado de Zico e Renato Gaúcho, que fizera história no Grêmio anos antes, Bebeto formou um dos ataques mais potentes do Flamengo. O time contava ainda com Leandro, Jorginho, Zinho e Andrade.
Primeiro lugar do Grupo B, a equipe comandada pelo técnico Carlinhos fez a semifinal contra o Atlético-MG. A vitória por 3 a 2 no grande jogo contra os mineiros já dera indícios da estrela de Bebeto, que marcou duas vezes.
Também foi dele o gol do empate no primeiro jogo da final diante do Internacional, no Beira-Rio. Mas o melhor estava por vir. No Maracanã lotado, o gol que ficaria marcado para sempre: Zico lança Bebeto, que toca na saída de Taffarel. Foi o gol do título do Flamengo.
Organizada pelo Clube dos 13, a Copa União (Módulo Verde), no entanto, não foi reconhecida pela CBF como título brasileiro, pois Flamengo e Internacional se recusaram a participar do quadrangular com Sport e Guarani, finalistas do Módulo Amarelo, o equivalente à Série B. A Justiça considera o clube pernambucano o campeão daquele ano. Mas isso pouco importa para a nação.
O adeus ao maior rubro-negro de todos
Em 1983, Zico dera apenas um “até logo” aos milhões de rubro-negros. Retornou para seu segundo ciclo mais maduro e levantou algumas taças. Mas a temida hora da despedida chegou no fim da década. Aos 36 anos, as dores no joelho esquerdo, operado algumas vezes, não o permitiam desfrutar do futebol como antes. As crises políticas e financeiras do Flamengo também deixaram o ambiente propício ao adeus após 22 anos de clube.
O último jogo oficial do Galinho com a camisa 10 teve o roteiro perfeito. Um clássico contra o Fluminense, em Juiz de Fora, válido pelo Campeonato Brasileiro, no dia 2 de dezembro de 1989, com um gol antológico.
Zico na despedida em jogo oficial do Flamengo contra o Fluminense em 1989
André Durão/02.12.1989
O último gol de Zico pelo Flamengo teve sua marca registrada: a cobrança de falta perfeita no ângulo do goleiro. O lance abriu as portas para a goleada rubro-negra por 5 a 0 sobre o rival. O craque ainda daria um passe para Renato Gaúcho balançar as redes.
No início do segundo tempo, Zico foi substituído por Uidemar e encerrou de fato sua histórica passagem pelo Flamengo.
— Sinto uma satisfação especial em me despedir num jogo com o Fluminense, ter jogado bem e ter feito um gol de falta. Parece um presente de Deus essa minha capacidade — disse Zico após deixar o campo ovacionado e cercado por torcedores, familiares e imprensa.
Zico se despede do Flamengo em jogo festivo no Maracanã
Marcelo Carnaval/06.02.1990
O camisa 10 da Gávea, no entanto, precisava se despedir do seu templo. Em fevereiro de 1990, o maior artilheiro do Maracanã, com 319 gols, foi festejado por quase 100 mil pessoas na partida festiva entre Flamengo e um combinado de estrelas internacionais, como Madjer, Kempes, Bebeto e Taffarel.
Shows de luzes, faixas, bandeirões, pedidos de “fica” e um recado à torcida: — O Zico passou, mas o Flamengo fica e precisa de vocês.
Maestro Junior retorna e comanda títulos
Encerrada a “era Zico”, o Flamengo poderia ter ficado órfão de um grande líder dentro de campo. Não foi o caso. Após se render ao futebol italiano por cinco temporadas, Junior atendeu o pedido do filho Rodrigo que queria ver o pai jogar no Maracanã. De volta ao rubro-negro, de cabelos grisalhos, o Capacete deu vida ao Maestro.
Regendo o time que contava com Renato Gaúcho, Zinho e Gaúcho, Junior conquistou o inédito título da Copa do Brasil, em 1990. Na final contra o Goiás, o rubro-negro venceu por 1 a 0, gol do zagueiro Fernando, como mandante. Em Goiânia, o time segurou o empate e ficou com a taça.
Junior, porém, não pôde realizar o sonho do filho naquela ocasião. O Flamengo jogou em Juiz de Fora, pois o Maracanã estava em obras.
Junior comemora o seu gol pelo Flamengo contra o Botafogo na final do Campeonato Brasileiro de 1992
Cezar Loureiro/19.07.1992
No ano seguinte, a promessa foi cumprida: a equipe conquistou o Campeonato Carioca de 1991 ao vencer o Fluminense por 4 a 2. O último gol foi de Junior, que correu para comemorar com o filho na beira do campo.
Rodrigo e toda a nação rubro-negra ainda teriam mais o que comemorar graças a Junior. No Brasileirão de 1992, o Maestro foi o motor do time que conquistou o pentacampeonato diante do Botafogo. Ele marcou na vitória por 3 a 0 e fez um golaço de falta no empate por 2 a 2 na segunda partida — o jogo também foi marcado pela queda de parte da arquibancada do Maracanã, causando a morte de três pessoas.
