130 anos do Flamengo: Maracanã vira casa da multidão rubro-negra em década protagonizada por Dida

 

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A falta de números oficiais nunca impediu o imaginário popular do futebol brasileiro de garantir que mais de 200 mil pessoas estavam no Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950. O estádio erguido há 75 anos sempre teve aspiração às multidões, em uma história muitas vezes protagonizada pela torcida do Flamengo. Passado o torneio de seleções no qual o país quis se afirmar perante o planeta, o gigante de concreto precisava de "donos" e o rubro-negro se apresentou como um dos principais.

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As décadas de 1950 e 1960 serviram para ampliar na prática a presença da torcida flamenguista, que já crescia através das transmissões de rádio e das conquistas em campo. As primeiras casas do clube eram mais enxutas — os estádios da Rua Paissandu e o da Gávea — e insuficientes para a demanda de arquibancada que aumentou com a massificação do futebol no Rio de Janeiro e no Brasil.

O ponto alto desse fenômeno foi a final do Campeonato Carioca de 1963, em 15 de dezembro daquele ano, quando Flamengo e Fluminense levaram 194.603 pessoas para ver o título rubro-negro após um empate sem gols. Aquele é o maior público do futebol brasileiro em um jogo de clubes e atualmente impossível de ser batido.

Final do Carioca de 1963, entre Flamengo e Fluminense, estabeleceu no Maracanã o recorde de público no futebol brasileiro: 194.603 torcedores

Arquivo / Agência O Globo

Nestas duas décadas, além do título estadual de 1963, o Flamengo também faturou seu segundo tricampeonato consecutivo, entre os anos de 1953 e 1955, e a nova conquista em 1965. Em 1961, veio o primeiro e único troféu do torneio Rio-São Paulo, com a vitória por 2 a 0 sobre o Corinthians na final, graças aos gols de Joel e Dida. Foi um período em que jogadores como Zagallo e Evaristo de Macedo, e do treinador paraguaio Fleitas Solich, construíram sua lenda, em um Maracanã que foi adotado em definitivo pelos torcedores.

Ao mesmo tempo, uma tragédia se abateu sobre a Gávea. Eleito em 1951 e considerado um dos presidentes mais importantes da história do Flamengo, Gilberto Cardoso faleceu em novembro de 1955. O dirigente teve um infarto após testemunhar o pentacampeonato carioca de basquete do clube, em uma vitória na última cesta contra o Sírio e Libanês. Ao contrário do que diz o hino popular, de autoria de Lamartine Babo, ele foi rubro-negro "até depois de morrer".

Solich comanda o segundo tri consecutivo

O Flamengo já havia experimentado a trinca de conquistas estaduais nos anos 1940, mas o feito ganhou uma nova roupagem na década seguinte, quando o clube faturou os títulos de 1953, 1954 e 1955. O presidente Gilberto Cardoso não veria este último, conquistado em clima de luto apenas em abril de 1956, mas foi o grande arquiteto daquela equipe, principalmente ao ter contratado Fleitas Solich em 1953.

O paraguaio treinava a seleção de seu país até aquele momento e chegou ao Rio de Janeiro como a peça que faltava para destravar as conquistas da equipe, que já contava com nomes como o zagueiro Pavão e o atacante Índio, que marcou 142 gols com a camisa rubro-negra.

Treinador Fleitas Solich abraça Dida antes de um clássico entre Flamengo e Fluminense, em 1958

Arquivo / Agência O Globo

Na campanha de 1953, o Flamengo teve 21 vitórias e apenas duas derrotas em 27 jogos, acompanhado por um Maracanã com grandes multidões. O título foi confirmado em abril do ano seguinte, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, com gol de Rubens.

No ano seguinte, o rubro-negro praticamente repetiu o brilhantismo, em um Estadual no qual acumulou 19 vitórias e também perdeu apenas duas vezes em 27 jogos. Evaristo e Zagallo já faziam parte do time titular e o clube voltou a confirmar o título em um clássico. No Maracanã, venceu o Vasco por 2 a 1, com gols de Índio e Paulinho.

O tri não foi garantido em um caminho tão dominante, e foi preciso uma melhor de três na final contra o America. Mas após lesões no time, um desempenho irregular e até a morte de Cardoso, Dida se consagrou. No terceiro jogo, no dia 4 de abril de 1956, marcou os quatro gols da vitória por 4 a 1, em um Maracanã com 147 mil presentes.

Descoberto ao acaso, Dida vai de Alagoas à História

Quase dez anos de Flamengo. Segundo maior artilheiro da história do clube. Ídolo de Zico — e de todos os garotos que o acompanharam jogando. Todos estas definições se aplicam a Edvaldo Alves de Santa Rosa, o Dida, alagoano que chegou do CSA no ano de 1954 para se eternizar.

Sua descoberta aconteceu de maneira pouco usual, quando estava prestes a completar 20 anos e se destacou em uma partida entre as seleções de Alagoas e da Paraíba. O jogador de vôlei John O’Shea estava nas arquibancadas, em uma viagem de férias com a esposa, e acabou o indicando ao Flamengo.

Zagallo e Dida, jogadores do Flamengo, em 1957

Arquivo / Agência O Globo

Dida chegou de maneira tímida e demorou um pouco a se adaptar, mas já era pilar do time em 1955, quando marcou quatro vezes na final do Carioca. Até se transferir para a Portuguesa-SP, em 1964, marcou 254 gols em 358 jogos. Até hoje, o único que o superou foi Zico (508).

Dida foi um dos representantes do Flamengo na seleção de 1958, que venceu a Copa disputada na Suécia. Além dele, estavam no grupo o meia Moacir e o atacante Joel, além de Zagallo. O “Velho Lobo, também alagoano, foi um dos grandes nomes daquela geração rubro-negra, marcando um total de 29 gols em 205 jogos, entre os anos de 1951 e 1958.