130 anos do Flamengo: do centenário frustrado ao improvável hexa, virada do milênio faz clube viver carrossel de emoções
Poucos gols na História do Flamengo tiveram o simbolismo daquele marcado no dia 27 de maio de 2001. O Vasco estava com nove dedos no título carioca e só um milagre mudaria o cenário. Petkovic se encarregou de realizá-lo — com uma cobrança de falta magistral impossível de ser defendida por Helton.
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O gol do meia sérvio não tem data de validade no imaginário do torcedor e na lista dos mais icônicos dos 130 anos do clube. O lance sacramentou o quarto tricampeonato estadual, em que todos os títulos foram vencidos sobre o Vasco. Em 1999, graças ao gol de Rodrigo Mendes. Em 2000, com um irretocável placar agregado de 5 a 1.
Naquele momento, o grande time da cidade era o Vasco, competindo contra qualquer adversário do país ou até do mundo. Mas o Flamengo insistia em lembrar a todos sobre sua grandeza mesmo em uma época em que as crises e as tragédias eram uma constante.
Petkovic vai ao delírio com gol do tricampeonato carioca do Flamengo em 2001
Hipolito Pereira
Maior exemplo delas foi em 1995. Para celebrar o centenário, o clube foi a Barcelona contratar Romário, um movimento inimaginável porque o jogador era o atual melhor do mundo. No decorrer do ano, foi formado o ataque dos sonhos, com Edmundo e Sávio.
A promessa de título virou um fracasso retumbante. O Flamengo quase foi rebaixado no Brasileirão, além de ter sido vice-campeão carioca para o Fluminense, com o “gol de barriga” de Renato Gaúcho. No ano seguinte, o clube voltou o ser campeão carioca — venceu os dois turnos —, mas as decepções em campo eram a tônica.
Ainda em 1995, o rubro-negro foi vice da Supercopa da Libertadores, para o Independiente, da Argentina. Em 1997, perdeu o Rio-São Paulo para o Santos, e a Copa do Brasil para o Grêmio, ambos no Maracanã.
Romário e Sávio lamentam gol feito pelo Fluminense em final do Carioca perdida pelo Flamengo, em 1995
Cezar Loureiro / Agência O Globo
"Craque o Flamengo faz em casa", como diz o lema da torcida, mas os anos 1990 também foram marcados pelo desperdício de talentos Por conta dos problemas financeiros, o clube perdeu nomes como Marcelinho Carioca, Júnior Baiano, Djalminha e Paulo Nunes, idolatrados por onde passaram.
Os indícios de que as coisas poderiam melhorar vieram na virada do milênio, momento em que o rubro-negro também faturou um título icônico: a Copa Mercosul de 1999. Após superar gigantes como Independiente e Peñarol, o clube derrotou o Palmeiras em uma final épica, com um agregado de 7 a 6 — 4 a 3, no Maracanã, e 3 a 3, no antigo Palestra Itália. Lê fez o gol do título na reta final do jogo de volta.
"Acabou o dinheiro" e derrotas inexplicáveis
“O que acontece é o seguinte: acabou o dinheiro. Em razão da crise que abala o mundo, não há condições de gerir unidades fora do futebol”, disse o ex-presidente Márcio Braga em uma coletiva no início de 2009. O ano terminou com o título do Brasileirão, mas a situação do clube ia de mal a pior — sequer tinha condições de segurar seus principais ginastas: Diego Hypólito, Daniele Hypólito e Jade Barbosa.
A sequência de títulos entre 1999 e 2001 e o Carioca de 2004 — novamente, sobre o Vasco —, nem de longe fizeram o rubro-negro reestabelecer o protagonismo dos anos 1980. Ao contrário, a primeira década do século 21 teve suas vitórias, mas foi marcada por coleções de vexames, pujança econômica bem menor e elencos com atletas que chegaram sem nenhum alarde ou foram formados em casa.
Flamengo perde final da Copa do Brasil para o Santo André, em 2004
Ivo Gonzalez
Júlio César, Adriano Imperador, Léo Moura, Renato Abreu, Ibson... alguns destes nomes estavam em campo quando o Flamengo vivenciou dois de seus capítulos mais indigestos no Maracanã. Em 2004, a torcida viu o Santo André ser campeão da Copa do Brasil. Na Libertadores de 2008, o rubro-negro tinha vantagem de 4 a 2 sobre o América do México nas oitavas de final, mas o paraguaio Salvador Cabañas fez dois gols e comandou uma reviravolta improvável de 3 a 0.
Flamengo sofre reviravolta inexplicável diante do América do México e é eliminado da Libertadores de 2008
Alexandre Cassiano
Naquela noite fatídica de 2008, o técnico Joel Santana se despedia rumo à seleção da África do Sul. A classificação seria a cereja do bolo em uma comemoração que também era motivada pelo título carioca conquistado sobre o Botafogo alguns dias antes. Só faltou combinar com os mexicanos.
Porém, não apenas de frustração viveu “papai Joel” no Flamengo. Em 2005, ele era treinador na arrancada do time para fugir do rebaixamento. A permanência foi garantida no 1 a 0 sobre o Paraná, na 40ª rodada, com o gol de Obina no fim.
Mais um tri no Rio, Copa do brasil e Brasileiro
Algo que nunca mudou no Flamengo foi a presença na elite do futebol nacional. E mesmo tendo vivido 17 anos de jejum de título no Brasileirão, seguiu disputando as principais taças. Já freguês no cenário carioca, o Vasco voltou a ser vice, agora na Copa do Brasil de 2006. O segundo troféu do clube na competição veio com vitórias nos dois jogos da final — por 2 a 0 e 1 a 0.
Juan faz gol do Flamengo na final da Copa do Brasil de 2006, vencida contra o Vasco
Guilherme Pinto
A partir de 2007, o Flamengo iniciaria seu quinto tricampeonato carioca contra outro rival, o Botafogo. Foi uma época de confrontos acirrados, quase sempre terminando em 2 a 2. Tanto que, em 2007 e 2009, os títulos foram definidos nos pênaltis.
Flamengo fatura tricampeonato consecutivo contra o Botafogo, em 2009
Marcelo Franco / EXTRA / Agencia O Globo
Mas o grande capítulo do período se deu com o Brasileirão de 2009, no qual o rubro-negro quebrou um jejum que vinha desde 1992. Mesmo com todos os problemas estruturais, a equipe comandada pelo ex-jogador Andrade contou com os retornos de Adriano e Petkovic. A dupla colocou um elenco improvável nas costas e faturou o hexa.
Flamengo conquista hexacampeonato brasileiro em 2009, sob a batuta de Adriano e Petkovic
Fernando Maia / Agência O Globo
O Flamengo, que só assumiu a liderança da tabela na penúltima rodada, confirmou o título ao bater o Grêmio de virada, por 2 a 1, no Maracanã. O zagueiro Ronaldo Angelim, que teve um problema na coxa direita que quase o obrigou a amputar a perna, fez o gol do título.
