130 anos do Flamengo: do Carioca ao Mundial, geração de Zico e Júnior fatura quase todos os títulos e se eterniza

 

Fonte:


Rubro-negro arrependido deve ser aquele que adormeceu na madrugada de 13 de dezembro de 1981 e não viu Nunes e Adílio virarem os principais autores do maior capítulo da História do Flamengo. A viagem do Rio de Janeiro até o outro lado do mundo foi longa, mas bastaram 45 minutos no Estádio Nacional de Tóquio para a equipe que formou a geração dourada do clube bateu o Liverpool por 3 a 0 e conquistar o mundo — algo que a torcida até hoje “pede de novo”.

Primeiro capítulo: Do nascimento da nação rubro-negra ao primeiro time de futebol

Segundo capítulo: Título carioca de 1914 foi a primeira de muitas glórias do rubro-negro

Terceiro capítulo: Pelas ondas do rádio, o ídolo Zizinho coloca o rubro-negro no mapa do Brasil

Derrotar um adversário que venceu a Europa quatro vezes em sete anos foi um feito à altura apenas daquele grupo, liderado por Zico e muitos outros jogadores em seu auge. Leandro, Junior, Andrade, Raul, Mozer... Nunes, Artilheiro da Decisões, abriu os caminhos contra os ingleses após receber exímio lançamento do Galinho. Adílio ampliou aproveitando rebote de uma falta cobrada pelo camisa 10, e o Flamengo fechou a conta em chute cruzado de Nunes, após novo passe de Zico. Tudo isso apenas no primeiro tempo..

O Mundial fechou um ano irretocável, no qual o Flamengo também faturou a primeira Libertadores e o Campeonato Carioca. Foi também o ápice de seis anos de conquistas, período que foi do Estadual de 1978 ao Brasileirão de 1983.

Nunes faz o terceiro gol do Flamengo contra o Liverpool, no Mundial de 1981

Sebastião Marinho / Agência O Globo

Foi em 1981, porém, que o time parecia imbatível. Só não levou o título brasileiro, que havia conquistado pela primeira vez no ano anterior, em final contra o Atlético-MG. Por sinal, o adversário que se tornou o grande rival nacional naquele momento.

Ficou para a história o jogo desempate que decidiu a vaga à fase semifinal daquela Libertadores. A partida, em Goiânia, terminou com cinco jogadores do Galo expulsos pelo árbitro José Roberto Wright. O Flamengo avançou e chegou à decisão contra o Cobreloa, do Chile. Zico marcou os dois gols do título, em 23 de novembro, em Montevidéu. O título continental veio na primeira participação.

Entre as glórias no Uruguai e no Japão, o rubro-negro também faturou o Campeonato Carioca sobre o Vasco no “Jogo do Ladrilheiro”. Quando o cruz-maltino reagia na reta final, o torcedor Roberto Passos Pereira invadiu o campo e esfriou o time adversário. Flamengo campeão: 2 a 1.

O gol do “Deus da Raça” e o adeus ao capitão

O ponto de partida para aquele período de ouro se deu em um 3 de dezembro de 1978, que entrou para a eternidade do Maracanã e do Flamengo. Aos 42 minutos do segundo tempo, o zagueiro Rondinelli voou por trás da zaga do Vasco e testou a bola cobrada por Zico em escanteio. O gol decretou a vitória por 1 a 0 e um dos títulos do Carioca mais épicos do clube.

O rubro-negro não levava o Estadual desde 1974 e havia amargado o vice para o cruz-maltino um ano antes, em disputa de pênaltis na qual Tita foi o único a desperdiçar sua cobrança. Mesmo recheada de talentos, a geração era questionada pela falta de títulos e podia se desfazer se não vencesse a nova decisão contra o rival.

Apesar da emoção final, a campanha foi dominante, com o Flamengo vencendo os dois turnos. O título da Taça Guanabara veio pela primeira vez desde 1973, mesmo com uma derrota por 2 a 0 para o Fluminense na última rodada, com direito a gol de Nunes, mas pelo tricolor.

Rondinelli entra para História do Flamengo com gol do título do Carioca de 1978, contra o Vasco

Sebastião Marinho / Agência O Globo

Já a Taça Rio de Janeiro foi finalizada com Flamengo e Vasco. Se o rubro-negro vencesse, era campeão direto. O cruz-maltino poderia até empatar para forçar a final entre os dois. A torcida rival já comemorava o título do segundo turno quando Rondinelli virou o “Deus da Raça”.

A conquista foi a primeira de Cláudio Coutinho no Flamengo. O treinador que esteve à frente da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1978 acabou sendo o grande mentor daquele equipe, mas saiu após o título do Brasileirão de 1980, entregando-a nas mãos de Paulo César Carpegiani, jogador que se aposentou direto para o banco de reservas.

Quarto capítulo: Maracanã vira casa da multidão rubro-negra em década protagonizada por Dida

Quinto capítulo: Zico chega ao rubro-negro e começa a geração de ouro

Coutinho morreu precocemente em 27 de novembro de 1981, poucos dias após o Flamengo vencer a Libertadores. O capitão do Exército estava trabalhando no futebol dos Estados Unidos, mas morreu afogado enquanto passava férias no Rio de Janeiro, praticando pesca submarina nas Ilhas Cagarras.

O Brasil foi uma vez Flamengo, três vezes Flamengo

O Flamengo demorou dez anos até vencer o seu primeiro Campeonato Brasileiro, iniciado em 1971, mas o fez em grande estilo. Foram três títulos em quatro temporadas, que posicionaram rapidamente o clube entre os maiores campeões nacionais.

Cláudio Coutinho comandava a base do time que havia conquistado o terceiro tricampeonato carioca da história — em 1979, foram disputados dois Estaduais, e o rubro-negro venceu ambos — , mas ainda faltava se provar a nível nacional.

Nunes faz o gol do primeiro título brasileiro do Flamengo, em 1980, contra o Atlético-MG

Aníbal Philot/Agência O Globo

O sonhado título veio em um campeonato bem à moda daquela época, com três fases de classificações antes da reta decisiva, na qual o Flamengo eliminou o Coritiba na semifinal e bateu o Atlético-MG na final. Após perder por 1 a 0 em Belo Horizonte, venceu por 3 a 2 em um Maracanã com 154 mil pessoas. Zico marcou um gol, e Nunes, dois — o último aos 37 minutos do segundo tempo. O Brasil era rubro-negro.

No ano seguinte, o título ficou com o Grêmio, mas o time carioca logo retomou o trono. Em 1982, bateu o próprio tricolor gaúcho em uma final de três partidas. Após dois empates, o Flamengo triunfou no Olímpico com mais um gol decisivo de Nunes: vitória por 1 a 0. Já em 1983, a decisão foi contra o Santos. A derrota por 2 a 1 no Morumbi não impediu que o Maracanã vivesse uma tarde mágica de 29 de maio. Mais de 155 mil pessoas fizeram um carnaval graças ao 3 a 0 construído por Zico, Leandro e Adílio.

Maracanã na final do Brasileirão de 1983, vencida pelo Flamengo contra o Santos

Aníbal Philot / Agência O Globo